Prof. Dr. Marcelo Augusto de Felippes

“Não pergunte o que os Estados Unidos podem fazer por você, mas o que você pode fazer pelos Estados Unidos”, afirmou John F. Kennedy à multidão reunida no Mall de Washington, no seu discurso de posse à presidência, na manhã de 20 de janeiro de 1961. Em janeiro de 2021, estaremos completando 60 anos de uma frase que ficou para eternidade.

O momento da COVID-19 é muito ímpar na nossa história contemporânea e essa frase nunca foi tão atual.

Cada um de nós pode fazer um pouco que seja e a atividade de transporte pode fazer muito.

Embora a mídia esteja divulgando que a recuperação da economia mundial se dará em 2021, os gráficos econômicos da história recente e as incertezas ainda existentes do COVID-19 não garantem essa afirmação. Como não se pode estimar uma data para término do surto, o futuro econômico de países, ou blocos a que pertencem, farão com que as decisões políticas socioeconômicas ditem os gráficos econômicos do future. Uma recuperação mínima só poderá ser possível se decisões inovadoras e corajosas saiam do papel e entrem na vida da sociedade desde já.  Abaixo, seguem alguns comentários da WTO (World Trade Organization), que visam à reflexão de todos envolvidos e comprometidos em minimizar as consequências desastrosas na encomia de seus países.

Gráfico 1 – Volume mundial do comércio de mercadorias, 2000-2022

Índice, 2015 = 100

Fonte:   WTO Secretariat.

Analisando a linha azul, que mostra a curva real do volume mundial de mercadorias, observa-se que 2019 já apresentava uma desaceleração. A tendência em cenários otimistas e pessimistas são desanimadoras, pois são as consequências da pandemia ainda em curso. Há semelhanças com a crise de 2008/2009, mas não em sua plenitude. Uma diferença que destacamos é o atual distanciamento social (isolamentos, quarentenas e toques de recolher em alguns países), que não permite que haja uma continuidade plena da capacidade produtiva e comercial, interferindo crucialmente na atividade logística e de transporte.

O gráfico 2 do WTO ajuda a entender com muita clareza as quedas reais já do primeiro semestre de 2020. A continuidade do consumo passou a ser  ainda mais vital para a manutenção do setor de transporte.

Gráfico 2 – Proporção do crescimento do comércio mundial de mercadorias em relação ao crescimento do PIB mundial, 1990-2020

Fonte:   WTO Secretariat for trade and consensus estimates for historical GDP. Projections for GDP based on scenarios simulated with WTO Global Trade Model.

Gráfico 3: Novos pedidos de exportação dos índices gerenciais de compras, janeiro de 2008 – março de 2020

Porquanto a manufatura ainda consiga ter um decréscimo menos agressivo da curva no início de 2020, os serviços, que incluem a logística e o transporte, despencam em queda livre.

Note: Values greater than 50 indicate expansion while values less than 50 denote contraction.
Fonte: IHS Markit.

Gráfico 4: Crescimento no valor das exportações de serviços comerciais por categoria, 2015-2019 % de variação nos valores em US $

Fonte: WTO Secretariat, UNCTAD and ITC.

De acordo com o WTO, a atividade de transporte mundial foi negative em 2015, 2016 e 2019. Portanto, nada ainda pode nos garantir que ela será positiva até 2022.

Segundo estudo da WTO, o comércio mundial deverá cair entre 13% e 32% em 2020, uma vez que a pandemia do COVID-19 interrompe a atividade econômica normal e a vida em todo o mundo.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) surgiu após a Segunda Guerra Mundial, em 1948, quando os países retomavam suas atividades de recuperação econômica e social. E uma de suas funções é “Estimular a cooperação entre grupos científicos para que estudos na área de saúde avancem”. Nesse particular, estamos diante de uma real oportunidade de buscar interações construtivas e a Câmara Interamericana de Transportes – CIT, que atualmente reúne países das Américas, vem envidando esforços para que tenha participação em tão importante fórum, pois outras pandemias e desastres ambientais virão e a atividade de Transporte deve ser entendida não somente como um item da economia, mas também como uma ciência.

Relembrando Kennedy, não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país…. o setor de transporte não pode esperar. Tem que agir e reagir. A visão de futuro, criatividade e a inovação são fundamentais, pois atravessaremos o Rubicão e passaremos do Mercado Urso para o Mercado Touro em algum momento, inevitavelmente. Portanto a hora é agora de planejar e preparar o futuro que queremos fazer pelo nosso país.

O Dr. Marcelo Felippes é cientista em logística, diretor da Câmara Internacional da Indústria de Transportes – CIT e “membro sênior” da Federação Global de Conselhos de Competitividade – GFCC – EE. EUA (Siga seu Blog), ele dedicou quase 40 anos à logística militar e duas décadas ao ensino de transporte e logística no Brasil, EUA, América Latina, Europa e outros países, além das principais operações de logística militar no Amazonas e no transporte dos Jogos Militares Mundiais – JMM, em 2011, que lhe renderam o título de LOGÍSTICA DO ANO. Ele escreveu vários artigos técnicos publicados no Brasil e no exterior e 12 livros sobre logística e transporte. Neste artigo, ele alerta sobre a atividade de transporte global que foi negativa em 2015, 2016 e 2019 e nada pode garantir ainda que será positivo em 2022.