Dr. Marcelo Augusto de Felippes, CEO da Câmara Internacional da Indústria de Transportes (CIT), em entrevista à Movant Connection (Argentina). Foto: CIT

Qual é o seu trabalho na CIT e como se envolveu com esse setor?

Meu cargo hoje na Câmara Internacional da Indústria de Transportes (CIT) é o de CEO, onde temos 61 países membros dentro da Rede Internacional de Transportes (RTI).

Quanto à minha ligação com o setor, tudo começou com meu pai, que trabalhava na indústria automobilística, o que me deixou inclinado para esse setor. Aos 14 anos de idade, comecei minha vida militar e me formei como tenente em logística. Mais tarde, tive a possibilidade de fazer um mestrado em transporte. Também tive experiência em aviação militar, tenho uma longa história no Exército Brasileiro.

Fiz um mestrado na Venezuela, onde também morei por dois anos. Quando fiz meu doutorado, comecei a escrever livros e me tornei professor. Lecionei Logística e Transporte em muitas universidades, mas a que mais me marcou foi a Universidade de Miami, Coral Gables, Flórida nos EUA.

Quando a CIT começou a ser construída, há 22 anos, fui chamado para trabalhar junto com o Dr. Paulo Vicente Caleffi, que é o atual Secretário-Geral da CIT. Tínhamos a árdua tarefa de reunir país por país. Naquela época, os países tinham mais diferenças do que semelhanças. Tivemos que buscar a participação de todos.

É preciso ter em mente que a CIT não tem fins lucrativos, o que geramos são vínculos de conhecimento, cooperação. Mas hoje a CIT é reconhecida pela ONU, OEA, ALADI e outras entidades internacionais.

Pode-se dizer que estamos passando por um momento de transição no mundo do transporte?

É claro, uma transição não apenas em nível operacional, mas também no nível superior das empresas. Aqueles que fundaram grandes redes de logística ou empresas de transporte já morreram, ou aqueles que ainda estão por aí estão passando suas empresas para seus filhos, por exemplo.

Surge um problema muito interessante, que é o fato de muitos não quererem continuar.

Uma mudança geracional?

Acredito que toda transição tem que aproveitar as experiências. No entanto, trazer os que estão ligados à Geração Z, a Geração Alpha. Eles serão o futuro, são eles que vão trazer as cargas, os passageiros e tudo mais.

Um futuro em que todos tenham paz, em que sejam gerados bons lucros para todos, em que todos saiam ganhando, o cliente e o empresário.

E como a CIT vê isso?

Não trabalhamos com dinheiro, trabalhamos com conceitos, ideias e reunimos muitos países, muitas pessoas.

Você começa a perceber uma vontade de romper fronteiras, não é mesmo?

Fronteiras do conhecimento. Vamos pensar que as empresas estavam acostumadas a um modelo de negócios mais vertical. Agora as coisas se tornaram horizontais, para dizer o mínimo. Antes, o proprietário da empresa era o proprietário das informações, e o operador de uma carga apenas trabalhava. Hoje, esse operador tem acesso a essas informações rapidamente. Então, há um conflito, não é mesmo? Você precisa de experiência, mas também precisa de tecnologia e inovação.

É por isso que, quando nós da CIT ministramos cursos, por exemplo, sempre tentamos reunir as pessoas mais experientes com as mais jovens em pequenos grupos de trabalho. Tentamos incorporar a agilidade em tudo o que fazemos.

Na CIT vocês estão pensando em transporte fora da caixa, com uma mente mais aberta. Em uma visão mais generalista, eu entendo…

Há algum tempo, comecei a perceber e a discutir com toda a minha equipe que as coisas precisam mudar. O modelo de ensino, por exemplo. Os jovens de hoje querem aprender coisas no YouTube e talvez o “certificado” não seja tão importante para eles.

Agora temos que pensar em tudo. Em um universo mais amplo. Hoje, o transporte é mais do que apenas ir do ponto A ao ponto B. É preciso ter uma visão diferente do transporte. Por exemplo, ser capaz de pensar em uma empresa bem-sucedida implica pensar na primeira milha, na meia milha e na última milha.

O modelo de fazer apenas uma coisa é limitante, agora temos que pensar em tudo. E é por isso que é importante olhar para isso de uma perspectiva mais jovem, o que agrega valor, mas isso não é rápido, leva tempo. Na CIT pensamos no futuro.

De onde vem essa “mente aberta”? Como você se nutre? Você é visto como inovador e aberto a coisas novas… muito entusiasmado.

Às vezes me sinto fora de minha classe. Não sou melhor do que ninguém, acho que a diferença é a coragem de enfrentar riscos, porque toda mudança os traz. Estudar fez a diferença, parei de estudar depois dos 60 anos, porque antes eu fazia isso todos os dias, em diferentes idiomas e em muitos países. Isso me nutriu.

Também aprecio o fato de poder ver “as últimas novidades”, pois estudei e as tendências falam muito. As pessoas não lidam com as tendências, mas elas o ajudam muito a ver o cenário do futuro.

Esse é outro problema no setor de transporte e logística: as tendências não são avaliadas nas empresas, porque elas estão muito preocupadas com o desempenho. Mas é sempre necessário que uma ou duas pessoas estejam de olho nas tendências.

Como CEO da CIT, em sua agenda de todas as manhãs, quais são os temas que te motivam, que o ocupam e preocupam hoje?

Essa agenda sobre a qual você me pergunta, para cada caso é um caso. Na agenda internacional, a pandemia mudou tudo. Mudou tudo. Muitas coisas para melhor, mas outras para pior. Sobretudo, para os empresários. O preço do frete baixou muito, porque entraram no mercado atores, players, que não dão qualidade, não dão segurança, não dão nada, mas estão aí, nessa concorrência. E aqueles que estão seguros estão sofrendo para manter seus empregos, porque pagam impostos, pagam tudo.

Esse momento pós-pandemia é complexo. Há alguns conflitos em andamento, como a guerra na Ucrânia, como o que está acontecendo em Israel, que também complicam a situação.

Mas as empresas que estão avaliando as tendências estão sobrevivendo e preparando seu futuro. Esse é o segredo.

Uma última mensagem, especialmente para os jovens que estão dando seus primeiros passos no setor de logística e transporte?

Para todos os jovens que estão terminando seus estudos, começando a trabalhar ou querendo abrir sua própria empresa, meu conselho é que nunca façam nada de que possam se arrepender no futuro, porque há um preço a pagar. É importante que os jovens valorizem mais a ética, os princípios e os valores. Não se trata apenas de tecnologia.

Fonte da entrevista: Marcelo Felippes, CEO en Cámara Internacional de la Industria del Transporte (CIT) (movant.net)